SubverCine Bunbu Itchi
De um modo geral, qualquer cidadão letrado, aqui pelas bandas do ocidente, imagina que a pena (a palavra) é mais poderosa que a espada. Porém, lá pelas ilhas japonesas, imaginam bunbu itchi, ou "a pena e a espada juntas". Estes modos de imaginação têm conseqüências vitais. O primeiro modo, nos torna, ou pessoas falastronas, ou pessoas que acreditam demasiado que, apenas conversando, tudo se resolve. Superestimamos, de tal maneira, o poder da palavra que esquecemos da espada. Desta seguimos ao segundo modo. Espada não significa resolver a situação na porrada. Ela significa ação. Bunbu itchi é o princípio o qual nos traz a sabedoria de que agir sem pensar é tão inútil quanto pensar sem ação. Este modo nos torna pessoas, ao mesmo tempo, mais corajosas e mais sábias. Ah, que belíssima estrela errante para nos servir de guia. No entanto, SubverCine! Além da palavra, imagens em movimento - ideografia dinâmica. Aqui imaginamos que tal movimento seja o de um exímio espadachim. Assim como o de escrever ideogramas. Nenhuma tensão no corpo. Tudo é flexível, mesmo diante de uma morte trágica. Como um bambu ao vento na beira de um precipício. Imagens sem a espada é tão inútil quanto espada sem imagens. Talvez os povos que escrevem por ideogramas tenham mais algo a diz que os povos que escrevem por fonemas e sílabas.
Com que então pertenço aos céus?
Não fosse assim, por que é que os céus
Me olhariam assim com seu eterno olhar azul,
Me chamando, e à minha mente, mais alto,
Sempre mais alto, sempre mais acima,
Me chamando sempre para o máximo,
Para alturas que homem algum imagina?
Por que, estudado o equilíbrio
E o vôo planejado até a última minúcia,
Até não haver margem para o infortúnio,
Por que, até aí, deve a ânsia de subir
Ser associada à insânia?
Nada nesta terra vai me ver satisfeito;
Novidades do mundo, logo monótonas;
Algo me chama lá em cima, para cima,
Cada vez mais perto da faísca do sol.
Por que me queimam estes raios da razão.
Por que me destroem estes raios?
Trecho do poema "Ícaro" de Yukio Mishima, traduzido por Paulo Leminski
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