
Desfrutemos a presença. Sem omitir o vira ser e o que já se foi. Muito menos sacralizar o instante como uma miraculosa gênese. Deixemos de imaginar que a felicidade está ligada ao belo. Esqueçamos tudo aquilo que torna suportável a vida. Não deixemos que ninguém mais coloque um véu de pureza no trágico. Mas, porquê tudo isso? Mais imperativos? Não! Pois ninguém tem o direito de obrigar quem quer que seja ao prazer ou à boa saúde. Qualquer tentativa de se fazer uma obrigação desse tipo, é esboçar pessoas fantasmas, é arbitrariamente abreviar-nor. Portanto, que passe a angústia! Que passe a alegria efêmera! A ambição de artista! A educação religiosa! O culto às celebridades! A aposentadoria! As leis anti-fumo! As leis secas! Os toques de recolher! Que aceitemos a passagem de tudo isso! Ao mesmo tempo em que, com a deligente seriedade do artesão, com a fatalidade da sensualidade, elevemos nossos pulmões às alturas, onde o ar se torna mais raro, para que os tornemos vazio em poluição, um nada grávido em possibilidades! Então, com pouca oxigenação no cérebro, rindo e caindo rapidamente, de maneira profunda e perigosa, possamos nos colocar no momento certo de sentirmos um novo perfume; mais ainda: que esses pulmões adquiram o aroma de preparar-se para a vida, pela única via saborosa - viver.
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