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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sweet Movie - contra todos os regimes!

O quanto de liberdade somos capazes de suportar? Preferimos a realidade conformista ou a imaginação libertária? Ou mal deixamos de lado uma idiotice e nos apressamos a subistituí-la por outra? E se, de repente, algo implodisse os fundamentos teológicos tanto do capitalismo quanto do comunismo? Onde e como ficaríamos? O capitalismo tem no íntimo de seu coração a utopia de nos transformar todos/as em supra-consumidores/as, no qual, a cada mercadoria comprada compra-se um pedaço do paraíso. Já o comunismo, que prometeu a felicidade para todos/as... faliu. Ambos incapazes de cumprir suas promessas. Ambos nos trazendo um gigantesco saldo de misérias e desgraças. E agora? Encararemos de frente essas tragédias e seguimos adiante? Se sim, por onde começar? Açúcar, chocolate, ou...?

Pois bem, daremos uma dica. Comecemos assistindo Sweet Movie (1974), um filme de Dusan Makavejev. Como o fizemos no último dia 08 de junho de 2010 em nosso cineclube Cin'surgente - com as participações especiais de Jesse e Henrique. Podemos dizer que Sweet Movie é um filme rapadura. Como assim? Tal qual diz a sabedoria popular: "rapadura é doce mais não é mole, não". Assim o é Sweet Movie: saboroso, porém, incômodo, desconcertante, intimista, um "mais que" doce e necessário soco no estômago. Fácil, fácil de entender o motivo pelo qual o filme foi proibido à época em muitos paízes e ainda o é em alguns deles até os dias de hoje: muita liberdade! E isso é contra qualquer regime - tanto no sentido de tipo de governo quanto no sentido gastronômico. É perigoso ao "realismo" sermos livres demais. Na liberdade sob controle qualquer crença é agravada para sempre. Torna-se uma fortaleza impenetrável. É capaz de de frustrar toda possibilidade de crítica. A segurança é total. Na exata medida, a pessoa que crê está disposta a se sacrificar pela crença e a pessoa que diz não crer finge que nada quer saber de sacrifícios. No entanto, para a pessoa indiferente ao controle, as questões de crença e não-crença são irrisórias. Seu espírito livre lhe permite afrontar serenamente toda questão e toda crítica, sejam elas de qualquer espécie que sejam.

É dessa espécie o espírito de Sweet Movie: livre. A liberdade é levada para além de suas fronteiras comuns: ao mesmo tempo (1) o corpo é celebrado e sacrificado - pênis de ouro, vulva achocolatada, assassinatos documentados e sublimados; (2) as crianças não estão desprovidas de libido - pirulitos e Anna Planeta; (3) o sexo não é sagrado nem profano - prêmio à virgem mais virgem e a virgindade é prêmio, orgias escatológicas, sublimações e pacto de amor selado; no entanto, (4) a sedução é o único universal. Esta é a doçura do poder: açúcar e chocolate. É a ascepcia paranóica do capitalismo e a sujeira neurótica do comunismo. É a ferramenta impura que joga com os desejos das pessoas e o ato puro de se deixar levar pelo gosto. É a tática ilusória da humanização do capitalismo e a tática ilusória do progresso do comunismo. Porém, ambas seduzem e em seguida traem. Ambos são regimes de morte. Ambos adoçam nosso paladar, fazendo com que esqueçamos da amarga marcha até a morte. Mata-se por ansiedade. Mata-se lentamente. Fora dos regimes de morte, também morre-se, porém sem excessos paranóicos de racionalidade. Na liberdade não há a curiosa aptidão de imediatamente substituir uma bobagem por outra. Nela a tolice e o vazio não são indispensáveis ao psiquismo. Nela o fora de moda, a desilusão e o fadado ao fracasso são nada e somente se manifestam, quando são escolhidos como objeto de desejo, um desejo de coisa nenhuma, o niilismo, no qual os sindicatos, as eleições representativas, o mercado de trabalho e o sistema financeiro de créditos, tentam nos deixar apáticos/as diante do mundo. Sweet Movie é um filme para nos trazer de volta ao real, que é, antes de tudo, singular, intrinsecamente doloroso e trágico. Não há consolo ou escapatória. Não há remédios nem doces. E como diz o filósofo francês Sartre: "Não importa o que as condições fazem conosco. Importa o que fazemos com essas condições. O ser humano está condenado à liberdade".

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1 comentários:

Renata Figueiredo 24 de junho de 2010 às 14:47  

Oi Leo, depois dá uma passada no meu blog e me diz o que achou dos textos ok?
Bjooo bunito!

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