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domingo, 27 de junho de 2010

A Vida dos Outros - ou o que fazemos com a nossa finitude?

Filme controvérsias. Filme decisões. Filme paixões. Dizem que a origem de todo pensamento metafísico é a frustração de um músico fracassado enquanto tal. Em "A vida dos outros" tal afirmativa está presente, porém de modo um tanto peculiar e invertido: um pensamento metafísico cuja origem é uma bem sucedida música de um compositor nada frustrado, porém que frustra: sonate vom guthem menschen - "sonata para um homem bom". Pois bem, que metafísica originada é esta? A mais vil delas, a metafísica dos valores. Primeiro inicia-se com a velha discussão sobre o bem e mal. Depois, a questão que movimenta a velha discussão: pode alguém mudar? E por fim, em terceiro, a resposta humanista: garantir, a qualquer custo, que o ser humano é algo sagrado, corrompido apenas por fatores externos.

No início a velha discussão: em "A Vida dos Outros" o bem e mal estão ilustrados pela Alemanha Oriental antes da queda do muro de Berlim. No caso o governo socialista, convertido em Estado do hiper-controle - este último um sonho, prestes a ser realizado, pelas grandes "democracias" atuais - ilustrando o mal. Já o bem, exaustivamente simbolizado pelos intelectuais - supostos livre-pensadores. De um lado os mocinhos intelectuais, de outro, os bandidos políticos e no meio à esse tiroteio, uma vital artista e um ambíguo espião. A arte (Christa-Maria Sieland) seduzindo todos que cruzam seu caminho - pura vitalidade, pura celebração da vida, cujo ato mais vivo é se apropriar vorazmente de si mesma, mesmo que isso signifique seu próprio fim. A polícia (Ulrich Müher) ao mesmo tempo cega cumpridora de ordens superiores e voyer realizadora arbitrária de ordens inferiores - pura ironia; puro talvez; puro "será?"; na pureza de qualquer torturador há uma boa pessoa (!?). É possível morrer para nascer uma pessoa completamente diferente?

No movimentar da questão: Acreditamos na mudança? Ou a desejamos? Mudar é questão de crença ou de desejo? Não importa a resposta, pois ambas dão na mesma: a impossibilidade da realização do objeto. Se acreditamos, há a possibilidade de deixarmos de acreditar. Se desejamos, há a possibilidade de jamais termos o desejo saciado. No filme tal impossibilidade é evidente até demais. Vejamos apenas três evidências: 
  1. Um espião que conhece o conteúdo de todas as informações tornado carteiro, um mero desconhecedor de qualquer conteúdo que ele mesmo entrega;
  2. Suicídio: artifício incentivado para que o assassino não suje suas mãos tornado, artifício maior da afirmação da vida: "É claro que quero viver! Porém, não deste modo";
  3. Comprar um livro da livraria Karl Marx e poder escolher qual cartão de crédito que se pode fazer o pagamento;
E a resposta? Poetizar a condição humana? Mudar enquanto pessoa é sempre para algo positivo? O partido é propriamente cada um de seus membros? Toda forma de governo não-socialista é neutra? Romantizar as necessidades de sobrevivência? "A grama do/a visinho/a é sempre mais verde"? Estetizar as contradições e as misérias humanas? O mais alto valor do humanismo é que tudo é relativo? Pois bem, ao menos há uma resposta sincera no filme A responda de que tudo é relativo...  a algo absoluto: a finitude!

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1 comentários:

pedrocesarbatista.blogspot.com 28 de junho de 2010 às 19:34  

Um filme intrigante. Principalmente quando se analisava as pesquisas realizadas nas duas Alemanhas, anos depois de se tornarem uma apenas, em meiados da decada de 1990. Os que eram do ocidente queriam sua treanquilidade de volta, pois se sentiam "invadidos" pelos orientais, que tiravam seu sossego. Os que eram do oriente tinham saudades de suas casas, seus empregos e a "seguranca" que possuiam. Segundo essas pesquisas feitas no inicio dos anos 90, todos os alemanhaes, tanto do oriente, como do ocidente, desejavam o muro de volta.
Porém, mais intrigante eh a realidade atual. Estou no Chile e nasce aqui um novo partido, fundado pelo filho de um dirigente do MIR - Movimento de Esquerda Revolucionario assassinado perla ditadura de Pinochet. Marco Enríquez, o filho com um grupo organiza o Partido Progressista: "no somos ni de izquierda ni de derecha, sino que somos un partido abierto, transversal, que recoge los planteamientos que tanto uno y otro lado de la política comparten. Nosotros queremos modernizar nuestra sociedad de cara al siglo XXI y al bicentenario de Chile". No entanto, vejo aqui no Chile, assim como há em quase todo o planeta, a maioria recebendo baixos salários, sem ter assegurado seus direitos elementares, tais como saude e educacao. A violencia dos ricos, atraves do Estado, contra os mais pobres eh a mesma de qualquer outro lugar no mundo. Hoje, inclusive, durante a repressao dos carabineiros depois do jogo em que a selecao chilena perdeu para o Brasil, um jovem foi morto, apos ser preso, devido espancamentos sofrido dos policiais - herdeiros de Pinochet.
Nesse momento atual onde a uma uniformidade de sonhos, criados e impostos pela hegemonia liberal, que se diz humanista, mas visa os mesmos valores de sempre, dinheiro, status e poder. Consumir, luxo, riquezas é o que se busca em todo canto. Diante desse quadro o que valeu os sonhos do velho alemao, Marx, ou dos chilenos Neruda, Vitor Jara ou Violeta Parra. Como dizia Lenin: O que fazer?
Vamos continuar reunindo, resistindo, voltando as ruas, aos poroes e as garagens, tentando semear chamas do fogo da rebeldia em busca da vida e da dignidade.
Abracos

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