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terça-feira, 6 de julho de 2010

Valsa com Bashir - dançando com a dor dos outros

Uma porrada onírica de desfecho genial: o real. A escolha por contar a história via animação, amacia a carne, tal qual um martelo para bife. No entanto, a náusea é inevitável. Impossível indiferença. Desamparo. Desespero. Pequenez. Um indivíduo não é nada. Ao menos o é sempre reduzido. Desprotegido. Um monstro lhe observa. Prestes a dar o bote. Pessoa-presa. Impessoal-predador. Haveria algo mais inumano que defender no olho por olho e dente por dente qualquer Estado? Mas um Estado não tem olho, porém tudo vê. Mas um Estado não tem dentes, porém tudo come, digere e defeca. Mas um Estado só quer uma coisa: durar. Para isso não importa os meios. No entanto, haveria algo mais humano que defender a dignidade da vida pelo suicídio? Talvez o mais alto grau da dignidade humana seja suicidar-se para se abster de matar. Não há ética possível para o direito de legítima defesa. Porém, toda ética justifica o legítimo ataque: o modo de aniquilar a diferença. 

Ah, não venha com a bobagem de que é a condição humana cruel. Nem mesmo que a alma é boa por essência.  A humanidade não é natural. É tal qual a natureza: engenhosa, artificial. Qualquer humano defende, justifica e explica qualquer que seja a bobagem que o interesse.  Se há humanidade, há interesse. Se há sujeito, há interesse. Se há pessoa, há interesse. Se há indivíduo, há interesse. Se há..., há artifício. O que seriam dos exércitos, se não fosse o exercício continuado do interesse sádico?  Matar, se possível, do modo mais asceptico possível. Matar sem risco de morte. Matar a própria morte. 

E se virarmos o tabuleiro dos jogos de guerra? Óbvio que não. Guerra é tudo, menos jogo. Burocracias da guerra. Eis o Direito Internacional. As regras básicas de como matar. Guerra justa. Guerra santa. Não adianta a qualificação, a maquiagem, o ilusionismo. Guerra é profisionalização, industrialização e especialização do ato de matar. E só! Reduzida à sua barbárie mais bárbara.

Valsa com Bashir é um sonho, uma embriaguês, um transe, um privilégio de um ex-soldado, diretor. Memória crua. Animação que anima a alma, o ânima. Confronto. Limiar. Memória. Escolha. Culpa. Vergonha. Confronto fatal: humanidade vrs. ideal; humanidade enquanto ideal; moral. Ou, Estado X indivíduo; indivíduo-Estado (patriotada) ;  Estado-indivíduo (exército). Quem é o inimigo?  Quem está no limiar? A memória? Sua dinâmica? Ser fantasma enquanto passado vivo? Ou seria a dor? Minha dor, sua dor? O que faço a mim com a dor que vejo nos outros? E o medo? Quando e como morrerei? Quando e como matarei? o medo me leva ao terror? de que tipo? Terrorismo de Estado? É possível vida para além do terror? É possível viver em algum lugar  nem pré nem pós traumático? Na escolha? Na culpa? Na vergonha? Ou quem sabem, fosse possível viver no centro de algum buraco-negro sem que se tenha que aceitar um lugar na hierarquia? Onde o cotidiano não fosse um compromisso doutrinário? Onde não haja crianças lhe apontando uma RPG, ou que sejamos esta mesma criança? O que seria a maturidade dessa infância? Ser cachorro? Ser soldado? Depois ter o privilégio do esquecimento? Estar nú no mar... ou ser acalantado por uma mulher-mãe-azul-gigante?

Dancem, dancem, seres agonistas! Uma pessoa jamais pode ser reduzida à humanidade!

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