I love you - ou, Podemos amar qualquer coisa, inclusive pessoas
Quando o pensamento se colocar em movimento, nossa atenção logo se volta ao que propriamente o movimenta: a libido... Neste sentido, seria esta uma energia originária, tal qual um combustível para que máquinas funcionem? Será? Ou, quando a libido se colocar em movimento, nossa atenção se volta ao que propriamente a movimenta: o pensamento... Aqui, é objeto pensado que se torna energia originária. Desse modo, essa via de mão dupla nos coloca uma questão fundamental: seríamos seres tão especiais que, até mesmo, nossas condições mais baixas e indisíveis seríam sublimes.
Alto lá! Como assim?
Ok, vamos a um exemplo: I Love You (1986) - filme de Marco Ferreri. O amor! Que coisa é essa? Uma energia cega que nos arrasta pela vida? O ato mais sublime do cálculo de uma divindade qualquer? O ato mais sacana do cálculo de um demoniozinho qualquer? Seria o amor algo para se pensar? Algo para se sentir? Se isso, como pensá-lo? Como sentí-lo? Afinal, o amor realmente existe? Ou seria mais uma invensão obsoleta? Pois bem, I Love You é resposta a todas essas questões. Resposta absurda, a única possível para nossas vidas... absurdas!
Neste filme de Ferreri, as relações amorosas são todas inusitas e cruas, portanto, reais. Sem elaborações barrocas ou românticas. Se arquitetônicas, poderiam ser chamadas de relações amorosas bauhaus. Garotos amam porcos e computadores. Homens amam tudo o que passa na TV, amam uns aos outros e amam chaveiros. Mulheres simplesmente amam. Todo objeto de amor é ideal, portanto, passíveis de superação. Todo objeto é ideal. Fora disso o dinâmico: a libido. Esta é infantil. É inocente de qualquer culpa. Quer brincar. Sua relação com os brinquedos jamais é banal. É crua e visceral. Amam com uma boa dose de amor, crueldade, apropriação e ciúmes. Niilismo, liberdade e si mesmo. Uma trindade flúida. Cujo único sinal é um artifício humano demasiado humano: o amor. Neste tudo é cópula: máscaras e rostos, masturbação e TV, orgasmo e apatia, sarcasmo e identidade, bananas e assobio, phalo e fala, excesso e falta, tempo psicológio de Michel e tempo de direção de Ferreri. Também, no amor, tudo é único: atração pelo vazio; superficialidade como tudo o que temos; todo o imaginário é autofágico; toda persona é nada mais que suas próprias fantasias; a única realidade possível de ser experimentada é o fetiche.
I Love You é uma relação simbólica com resultados diabólicos. É uma ideografia iconoclasta. Lá o mar está presente, simbolo do inconsciente, porém, junto ao seu duplo: a TV. O assobio como a não linguagem do desejo que busca satisfação. Mas não qualquer satisfação. Esta, algo inanimado. Passível de apropriação. "I love you", o objeto de desejo. Dito em outra língua. Portanto, mais sedutor. Michel símbolo do macho ocidental: bonito, independente, sem esforço tem as mulheres todas atraídas por ele, e desse modo, ambíguo. Pela banana o pênis se faz presente. As entradas e saídas tanto pela porta quanto pela janela, nossos multiplos modos de sentir prazer.
E assim... assobiemos para que respondamos uns aos outros e outras: I Love You! Por favor, de novo, de novo e de novo...
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