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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Lucio, o anarquista - Ou, quem tem medo do anarquismo?

No último dia 31 de agosto (2010) o Perfume do Deserto em seu Cin'Surgente apresentou o filme "Lucio, o anarquista" (2007) dos diretores Jose Mari Goenaga e Aitor Arregi. Daí aconteceu um daqueles acasos felizes únicos: apenas uma única pessoa veio à exibição e, esta, brasileira que imigrou para Espanha já há alguns anos, faz parte ativa do movimento anarquista e ainda freqüenta o espaço cultural "Louise Michelle" aberto pelo próprio Lucio (biografado pelo documentário)!!! Resultado: a conversa após filme foi edificante. Tanto foi que, em um dado momento, resolvemos fazer um experimento, tal qual o proposto por Naomi Klein, decidimos que era hora de escrevermos um texto inicial tentando restituir a força original do anarquismo e torná-lo anarquismos, ou nos termos de Edson Passetti, tornar o anarquismo, heterotopias anarquistas. Eis o resultado desse acaso feliz irrepetível:

A anarquia sob as considerações quânticas de fisiologias desviantes

I
Nós, de instinto anarquista, sim! Espécie ilimitada de forças (em escala molecular) voltadas para a agitação alquímica da sociedade. Espécie ilimitada de forças – com capacidades de produção e reprodução autônoma – de um gênio químico e genético que transforma as qualidades íntimas da civilização átomo por átomo, gene por gene. Nossa perspectiva é a da reação combustiva de forças em escala microscópica que auto-organiza grupos de afinidades moleculares. Sendo assim, não nos é suficiente apenas libertar-nos de composições macromoleculares – seja ela um governo ou mesmo um movimento que carrega a antimatéria “ismo”. Libertemo-nos de nós mesmos enquanto indivíduos, enquanto pessoa! Nem altruísmos, nem solidarismos. “Liberdade” em implosões micromoleculares utilizando todos os recursos das tecnologias finas das nano-inteligências que compõem nosso corpo – tudo o que é vivo e tem sua consciência voltada para um viver exuberante, sejam partículas atômicas, sejam células. Sem as hipóteses dos séculos XIX e XX que visavam a organização de grupos por líderes, instituições ou mesmo causas. Hipóteses que não mais tocam o valor de um ser humano de pulsões anarquistas. Valores até então baseados na história, no progresso, na democracia, na verdade e em Darwin.
II
Nós, de instinto anarquista, sim! Precisamos de hipóteses mais ousadas para o nosso tempo que é agora! Um tempo que não está regido por relógios ou calendários. Um tempo regido apenas por qualidades de ser. A agitação e a velocidade em nossos corpos acontecem já em níveis quânticos, cujo processo são os das mutações aleatórias (radioatividade: quebra espontânea de núcleos) em graus de complexidade (vide o Princípio da incerteza de Heisenberg) que aumentam de acordo às suas respectivas precipitações. Níveis de espaços livres que se auto-organizam e se auto-determinam sem liberdade de movimento (singularidades), apenas jogos e configurações aleatórias de forças (eletromagnética, forte, fraca e gravitacional). Assim que as mutações aleatórias passam para níveis não mais quânticos e, portanto, menos vibrantes da matéria – nossas realizações sócio-econômicas e culturais –, elas acabam por compor nosso conjunto de inteligências. Tal conjunto não perde sua perspectiva da catástrofe e, ainda, ocupa pontos estratégicos para a manifestação da vida. Não há como domesticar, controlar ou mesmo reapropriar tais formas de vida. Pois suas identidades são nômades. Identidades quânticas! Nós, de instinto anarquista, sim!
III
A tragédia? É não conseguirmos subsistir por muito tempo. Tudo o que não é extremo é tudo aquilo que mantém uma imortalidade aparente. Nossa realidade é extrema, portanto, impermanente. Temos um encontro marcado inadiável com a morte. Somos propriamente morte. Nossa constituição corporal é frívola. É inocente. Nela não há moralidades, apenas instabilidade. Somos leves, furtivos, portanto, sedutores. Um dia, certamente, morreremos. Hoje, incertamente, vivemos. Em nós a morte potencializa a vida! Dos níveis quânticos aos níveis menos vibrantes da matéria, é a destruição que cria. Toda partícula possui sua antipartícula – sua mais própria possibilidade de aniquilação. O próprio cosmo é uma agitação e movimentos realizados entre seu Big-bang e seu Big-crunch. Como a do cosmo, eis a nossa singular condição extrema:
* Nós, de instinto anarquista, sim! não renunciamos a guerra – somos guerrilheiros(as) entrópicos(as). Sim, desprezamos lutas entre nacionalismos, lutas entre dinastias capitalistas, lutas entre a patriotada, e lutas entre ídolos.
* Nós, de instinto anarquista, sim! renunciamos o “livre-arbítrio”, exaltando nossos contra-sensos fisiológicos. Basta nossa pulsão desgovernada agir para o extravio da política de gabinete, para a recusa ofensiva do povo, da raça, do gênero, do trabalho e da formação escolar, da classe, e enfim, basta nossa pulsão desgovernada agir para a emancipação da civilização social e democrática de direito aparecer.
IV
Eis a vibração quântica reverberando em nossa fisiologia: a radioatividade quebrando espontaneamente os núcleos de nossas crenças; a entropia medindo a desordem de nossos sistemas de pensamentos; a singularidade dando cenários possíveis para o fim das metas até hoje existentes. É a anarquia acontecendo em todos os níveis de nossa existência. É a anarquia quântica servindo como motivo condutor do instinto. Breve, em sua realização. Plena, em sua energia. Bela, em seu acontecimento. Sublime, em sua destinação: hipóteses com forças mais violentas de criação e autodestruição!
V
Nós, de instinto anarquista, sim! Uma reação contra todo não-dizer e não-fazer! Ou, uma cura para o dizer excessivo e o fazer sem conseqüências!

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1 comentários:

Skoda 19 de setembro de 2010 às 13:16  

Boa tarde companheiros, gostaria de saber se existem legendas para este filme em português?
Um grande abraço!
Adriano Skoda
(Biblioteca Anarquista Terra Livre)
http://bibliotecaterralivre.wordpress.com

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