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domingo, 17 de outubro de 2010

Solaris - matando a Coisa e mostrando o ... a coisa mesma.

Não existe filme de ficção-científica que não seja projeção de nós mesmos/as - representação daquilo que já conhecemos. Por exemplo, todo alienígena é uma "coisa" que viria do espaço exterior, no entanto sempre acabamos por perceber que a "coisa "sempre imerge de nossas entranhas - por vezes nomeada de psiquê. Uma contradição bastante interessante, pois o que está de fora não vem de fora, vem de dentro. A "coisa" é revelada como nós mesmos/as! Assim, falar sobre essa questão seria propriamente tecer teorias psicológicas de alto nível, fazer um ensaio tradicional sem escândalos interpretativos, sem realismo fantástico ou até mesmo sem iconoclastia filosófica. Querem um exemplo de tratados desse tipo? Leiam o  que foi escrito pelo filósofo Slavoj Zizek. No entanto! A situação do filme  Solaris, do cineasta russo Andrei Tarkovsky, exige algo além de rótulos óbvios. Exige uma interpretação à altura do gênio de Fitzcarraldo. Sendo assim, utilizarei a pornografia como recurso metodológico para uma análise refinada desse magnífico filme.

O que há de mais tranquilo, regular e monótono do que o percurso de uma estação espacial orbitando um planeta qualquer? Os horários são precisos. A vida estudiosa monótona, sem aventura espantosa !  Porém, a "coisa" ronda  como uma única perturbação possível: a hipocondria - enfermidade da  imaginação. Quanto mais se quer evitar a "coisa", mais ela é alimentada. Pulsão imaginativa. Força que age nas zonas mais nobres do psiquismo. Ação impura e louca! Desejo amoroso! Orgias psíquicas! Assim é preciso curar o cientista. É preciso purgar-se desses amores proibidos. O superego científico está de vigília, pois quer estar pronto contra qualquer pulsão insurgente; contra qualquer demônio artesão de devaneios - os fantasmas sexuais. Esses que se agitam em momentos delicados do dia: o reino da noite. Os devaneios noturnos são os mais perigosos. Pois, abrem espaço para a vagabundagem dos desejos - o reino da masturbação! É preciso escolher. Uma prostituta ou uma masturbada?

Quem se masturba, constrói narrativas, evoca imagens. No entanto, seria Solaris uma espécie de planeta cafetão? Um planeta que liberta a ciência dos artifícios da fantasmagoria? Hari é apresentada à Kelvin. Antes uma prostituta do que se masturbar! Também é evidente o pânico da masturbação de Gibarian. Teme que a ejaculação seja nociva à saúde. Antes a morte que o desperdício de esperma! Sartórios esconde um anão: devemos supor uma experiência íntima que transformou sua vida. Já Snaut está fascinado. Ele experimenta algum tipo de sublime. Humano, talvez. Se isto, fascina-se por um sublime sexual: o ver a genitália. Talvez o sexo feminino: a visão da vulva. E isso pode ser devastador! Pois, é a verdade sem véus, sem calcinnha. Olhar sob as saias da Realidade é a obcessão de todo cientista. Um desejo voyer: pode-se ver a "coisa", mas se está proibído de tocá-la. E Solaris é o cúmulo do erotismo. Não só permite, mas obriga, mulheres no laboratório. Nada de verdade, nada, a não ser sexo. Em Solaris ninguém se retira, apenas se penetra. Porém, o nome da penetração é melancolia - doença da solidão.

Kelvin está melancólico, portanto intoxicado, devastado. Não suporta mais depilar a "coisa" de Solaris, pois ela sempre volta. A vulva lhe aparece sempre viva, jamais dorme. Impossível um cientista fazer experiências e especulações entre as pernas de uma mulher. É melhor outra "coisa" para manter a sobriedade. Algo mais viril: a Razão. Kelvin decide, anti-Édipo e anti-Eléctramente, pela razão - um tanto fláscida e já adormecida há tempos - de seu pai. Troca a vulva noturna eternamente renovável de Hari pelo pênis diurno paterno, tudo pela necessidade de  ... 

"Quem prometer à humanidade libertá-la das provações do sexo será acolhido como heroi" 
(Freud, in  Carta a Ernest Jones)

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